Um gostinho do destino

quarta-feira, 12 de janeiro de 2011 0 comentários

- A pessoa que eu mais amei? Bom... -

Eu a conheci quando eu tinha meus 17 anos, tinha viajado com uns amigos para a Região dos Lagos no Carnaval. Quem já foi sabe como é, tem toda uma pressão para você não sair sem pegar ninguém. Ainda mais se você for com os amigos, porque se um deles pegar alguém, você praticamente é obrigado a, no mínimo, falar com alguma delas. Se não, você é viado. E elas raramente estão sozinhas, então fica mais fácil de você não se sentir sozinho. Na dúvida, você faz companhia para a amiga feia.
Elas andam em bando, nós andamos em bando, e normalmente os números batem, então fica aquela coisa bem com cara de destino. Afinal, você é jovem, está de férias em um lugar fora da sua zona de conforto, pessoas diferentes, habitos diferentes, aquele clima de 'uau!'. Qualquer coincidência pode parecer destino.
Eu tinha acabado de chegar na praça principal quando eu a vi, de longe. Ela não estava com roupas provocantes, não estava de saltão, nem nada que pudesse dar a entender que ela estivesse afim de aparecer, apesar de todas as amigas estarem dando esta impressão. Ela estava simples, até demais. Não que ela fosse a única assim por ali, mas me chamou a atenção.
Começamos a andar pela rua para dar uma averiguada no local, meus amigos procuravam por 'presas' e eu os acompanhava, não que eu fizesse questão de pegar alguém mesmo naquela noite, mas eu não sou de ferro.
Andamos a noite toda até que um dos caras encontrou a predestinada da noite: uma das amigas DELA. Estavam sentadas na praça principal, a garota 'dele' parecia um tanto alterada, o que era confirmado para a garrafa de bebida alcoolica em sua mão.
Chegamos, como quem não quer nada, e cada um se 'aconchegou' ao lado de uma. Eu, óbvio, sentei ao lado dela. De perto ela era muito mais bonita do que de longe. Tinha os cabelos lisos e meio ressecados, dando um visual de praia que se completava com as bochechas levemente corados de Sol (o que era muito sexy), tinha olhos penetrantes e, não que isso fosse essencial, era muito gostosa.
Em menos de cinco minutos meu amigo conseguiu ficar com a amiga dela, enquanto eu conversava com ela e fui descobrindo que, além de bonita, era extremamente inteligente.
Estavamos no auge do verão e até as noites se tornavam insuportavelmente quentes, não lembro quem deu a idéia, mas fomos todos para a areia da praia em busca de alguma brisa vinda do mar. Sentamos na areia da praia e continuamos conversando horas a fio.
Ela falava sobre música, sobre arte, sobre livros, sobre filmes. Sabia de tudo e conhecia a todos, era engraçada e um tanto feminista. Estava no segundo período da História da Arte, e era um ano mais velha do que eu.
Minha confiança naquele dia estava um tanto quanto exorbitante, eu falava como se fosse o cara mais foda do universo, e ela entrava na pilha, agindo da mesma maneira, o que era o máximo, mulheres confiantes são sexy.
Mas chegou um ponto da noite onde o calor se tornou insuportável. Até que um dos meninos tirou suas roupas, ficando so de cueca, e correu em direção à água. Claro que para nós, homens, é mais fácil. Todos os caras entraram, continuei onde estava na tentativa de parecer solidário, mas quando vi as meninas com um olhar comprido, morrendo de inveja, vendo aquela água gelada no ir e vir na praia e os caras brincando, rindo, jogando água uns nos outros, não resisti. Como eu já disse, minha confiança estava em alta aquele dia, então eu me levantei e, mais para provocar do que para impressionar, falei:
- Sinto muito meninas, vou deixá-las por uns minutos para refrescar meu corpo e desfrutar da vantagem que Deus deu aos homens de poder tirar nossas roupas em público sem que isso interfira na nossa reputação. - Eu não tinha a menor necessidade de falar nada disso, poderia ter ficado quieto, mas o ego foi maior, e eu o fiz. Ainda bem.
- Engana-se, caro moço. - ELA falou. - Deus deu a cada um de nós, além do corpo, o poder do livre-arbítrio. - No que ela falava, ela começou a desabotoar o short.
- Eu não acredito. - Falei. De fato, não dava para acreditar.
- Fique olhando, enquanto eu desfruto da vantagem que Deus deu às mulheres de usar seu corpo como eu bem entender e não dar a mínima para o que vocês, homens, pensam. Nos tornando criaturas superiores e muito mais sexys. - Piscou para mim antes de tirar sua blusa. E lá foi ela, de calcinha e sutiã para dentro d'água. Fiquei alguns minutos olhando para ela, pensando em como eu fui conhecer aquela garota perfeita. Em cinco segundos, imaginei nossa vida juntos, pensei em nos casarmos, pensei que talvez aquele fosse o primeiro dia de toda a minha vida. Ela estava linda, mais linda do que nunca. De novo, linda da forma mais simples possível.
Corri atrás dela na água e, sem pensar em mais nada, a puxei pela cintura e a beijei. Uma onda veio e nos derrubou. Rimos juntos.

- E qual era o nome dela? -
- Não sei. -
- Não sabe? -
- Não. Ela era uma farsa. -
- Como assim, uma farsa? -
- Ela não existia. -
- Você imaginou? -
- Não. Mas o número que ganhei não era o dela, o nome que ouvi não era o dela. -
- E o que você fez? -
- Me casei. -
- Com ela? -
- Não, com minha colega da faculdade. -
- E a garota da praia? -
- É uma lembrança. -
- Acha que foi coisa do destino? -
- Está mais para coincidência. -

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