A espera

segunda-feira, 11 de janeiro de 2010 1 comentários
Objetos podem te ouvir, sabia? Cada objeto guarda uma lembrança de qualquer pessoa, guardam um situação nos mínimos detalhes.

- Pronto cheguei. - Disse uma menina, toda arrumada, parecendo nervosa. Ela olhava para o horário no celular repetidamente. - Eu estou meio atrasada, mas acho que está tudo bem, ele ainda não chegou mesmo... - Olhava para os lados compulsivamente. Ela parecia meio louca, já que ela dirigiu a palavra para a planta, no vaso ao lado do banco.
- Será que ele vai demorar muito? - Perguntou. E, como é de se esperar, não parou para tentar ouvir a resposta da planta. Ela então passou a mão carinhosamente por uma das folhas e se dirigiu ao espelho localizado próximo dali. Deu uma olhada no cabelo e ajeitou a saia, voltou e se sentou no banco, cruzou as pernas e esperou mais alguns minutos.
- Onde será que ele está? - Novamente perguntou à planta. - Quer dizer, nós marcamos 18:30, já são 18:45... - E apoiou o cotovelo no braço do banco, chegando mais perto da planta. - E se ele chegou aqui na hora, me esperou e foi embora? - Fez uma cara de assustada e pegou o celular. - Vou ligar para ele e... - Olhou para a planta. - Mas e se ele estiver chegando, vai achar que estou desesperada. - E botou o celular de volta. Bateu o pé no ar por alguns segundos até que voltou a falar com a planta:
- Mas, para ele estar atrasado assim, deve ter acontecido alguma coisa, não? - E mais uma vez não deu chance à planta responder: - É, vou ligar para ele só para perguntar se ele está bem, se ainda vem e tudo o mais... Mostra que eu estou preocupada. - E encarou a planta. - Certo, vou esperar mais uns dez minutos e ligo para ele só para saber se está bem. - E botou o celular no colo. Ficou encarando a vitrine na loja da frente.
Bateu o pé umas 1500 vezes, se levantou e foi ao espelho só para ver se seu cabelo estava arrepiado umas 6 vezes e olhou no celular umas 15.
- Ele deve estar com outra e a trouxa aqui está plantada esperando por ele. - Reclamava, tendo sua única testemunha a planta a quem fizera de confidente. - Eles devem estar em algum lugar escondidos por aqui rindo de mim. - Olhou em volta e se encolheu no banco. - Mas e se ele estiver preso no engarrafamento ou algo assim? Isso pode acontecer, certo? - Olhou para a planta novamente. - Quer dizer, ele pode estar preso no trânsito ou algo assim... - E suspirou. - A não ser pelo fato de ele não dirigir. - E rolou os olhos, como se fosse a pessoa mais estúpida por ter pensado nisso. - Ônibus, ele pode vir de ônibus! - Falou feliz. - O ônibus pode estar preso no trânsito ou algo assim. Faz sentido! - E então ficou tentando se convencer de que era esse o motivo dele estar atrasado: o trânsito. Observou as pessoas passarem por ela e a cada casal que passava, suspirava e olhava no relógio do celular.
2 horas depois, estava a ponto de explodir. Olhou para o celular e se rendeu.
- Ah, uma ligaçãozinha. - Mostrou o indicador para a planta e pigarreou. - Alô? - Se ajeitou no banco e, tentando parecer o mais relaxada possível, forçou a voz. - Oi, onde você está? - Ela abria um sorriso amarelo a cada palavra. - Como assim em casa? - Sua voz ficou afetada. Pigarreou de novo. - Amanhã, né? - E se largou no banco. - Claro que eu sabia. Só queria saber como você estava e, como agora eu sei, vou desligar. - Falou rápido e tentou abrir um sorriso. - Claro, vejo você amanhã. - E desligou. Olhou para a planta e falou: - Ah, como eu sou idiota! - Levantou e foi embora.

Aquela garota deixou a pobre planta sem entender nada porquê, ora, plantas são surdas. Você pode falar o quanto você quiser, mas elas não vão ouvir. Mas eu ouvi tudo. Ah sim, tudinho.
Ora, eu sou o vaso daquela planta, toda vez que a garota falava com a planta, sentia que a mesma se remexia dentro de mim e ficava meio inquieta. Mas se a menina tivesse falado comigo, bom, eu não ia poder respoder, claro, mas eu ia entendê-la, isso eu tenho certeza.

1 comentários:

 

©Copyright 2011 Escreve-se | TNB