A vela

sexta-feira, 27 de abril de 2012 0 comentários
De repente, um calor.
Fraco, começou aquecendo meu exterior. O ar ao meu redor começou a cheirar abafado e seco. Uma luz forte se aproximava. Cada vez mais luminosa, me cegava.
Então o calor aumentou, continuou aumentando. E doeu.
Doeu demais, quase insuportavel. Aquilo que começou fraco agora queimava forte e tomava forma, a me devorar. Sentia minha extremidade se encolher, se contorcendo.
Havia algo que pudesse fazer?
Pouco a pouco aquilo ia me consumindo, tranformando-se numa tortura constante, a ponto de me acostumar com o sofrimento. Era, agora, uma dor previsível.
Senti minha superfície suar. Eu estava me desfazendo pouco a pouco e me tornei líquida, até que, sufocada, chorei grossas gotas brancas, gotas pesadas de desespero, um chorar surdo. Elas escorriam por mim e doíam. Uma dor nova, e quis chorar de novo, mas chorar queimava.
Pouco a pouco fui perdendo minhas forças, a dor anestesiava meu todo e meu ser contorcia-se inútil. Já não poderia servir para mais nada. Toda minha existencia se resumia a isso.
Cega, já não pensava mais, só me restava sentir o que sobrara de mim arder. Até que parou.
Meu corpo, agora líquido, e meu ser, agora cinzas, já não eram nada. O ar ao meu redor passou gelado e levantou a leve fumaça que de mim saía.
E me acabei.

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