Profeta da rua Dantas

segunda-feira, 24 de outubro de 2011 2 comentários
De manhã as ruas ficam relativamente vazias.
O movimento de pessoas e de carros é pequeno, se limita a quem está indo trabalhar ou esperando seu ônibus. Sempre uma grande rotina, mesmas pessoas, mesmos carros, mesmos horarios.
Um dia, porém, uma figura estranha estava parada proxima de onde, normalmente, é meu lugar.
Era um homem. Tinha a estatura baixa, o corpo pequeno, poderia se passar por alguém novo, mas as entradas no cabelo denunciavam que era mais velho do que aparentava, e lhe dava um ar de sábio.
Estava todo de branco, da cabeça aos pés. Camisa larga, calças rasgadas, curtas, com seus tornozelos a mostra, as chinelas gastas.
Lembrava um profeta.
- Vocês já ouviram a boa nova? - Poderia ter dito.
Não disse.
Fiquei esperando, mas não o fez. Não fez nada.
Só observava. Olhava os carros passando, dava alguns lentos passos em direção ao nada. Como se calculasse cada movimento.
E é aí que ele olha para mim. Olhos perdidos, visão vazia, talvez nem tivesse me visto, mas olhou na minha direção. Ou não.
Só sei que começou a andar.
Parecia que vinha na minha direção.
Não veio.
Ao contrario, se atirou à rua.
Os mesmos passos calmos, o mesmo andar calculado, atravessou o cruzamento e foi parar na outra esquina.
Levantou uma das mãos.
- Venham ouvir a boa nova! - Poderia ter dito.
Mas não disse.
Ao invés disso, entrou em uma van e foi embora.

2 comentários:

  • Matheus disse...

    Tem a ver com o que esperamos dos outros e da força de um esteriótipo visual (o sábio, no caso), em como é engraçada esse necessidade da gente de enquadrar tudo (e todos) numa categoria e foi escrito na raiz da rotina, do cotidiano. Achei divertido e interessante. Gostoso de ler. Boa!

 

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