What about love?

quarta-feira, 29 de dezembro de 2010 0 comentários
- Vamos Marcela, não faça isso comigo! -
- Fazer o que, Pedro? -
- Isso que você faz. -
- O que eu faço, Pedro? -
- Isso! Você sabe que eu te amo. - Sabia?
Marcela, desde pequena, herdou de ninguém uma mania de desconfiança. Era do tipo São Tomé, só acreditava vendo, QUANDO acreditava, e não simplesmente concordava para poupar uma discussão.
Um de seus maiores problemas era acreditar em coisas subjetivas, precisava de provas. Não gostava de quimica e história para ela, era literatura. Tudo era uma grande mentira. Não acreditava em nenhuma religião, e, principalmente, no amor.
- Você não me ama, Pedro. - Estava sentada na poltrona da discórdia, como Pedro dizia. Todas as vezes que brigavam era a mesma coisa: Pedro andando pela sala, livre para qualquer movimento que lhe viesse à mente, como se ajoelhar, chorar, abrir os braços. Já os movimentos de Marcela eram restritos a olhar para o alto em busca de paciência, que nunca encontrava, já que não sabia para quem olhava, era apenas mais um movimento automático.
- Para com isso! Toda vez é a mesma coisa! Você é incapaz de dizer que me ama. -
- Mas por que eu diria isso a você? - Marcela também dizia ser muito franca. Só diria alguma coisa se realmente sentisse. Mas ela amava Pedro? Quer dizer, ele era a primeira pessoa com quem falava ao acordar, e a ultima antes de ir dormir, gostava de te-lo por perto e se divertiam demais. Mas isso é amor?
- Porque você é a mulher da minha vida! -
- Pedro, você tem 20 anos! Como eu sou a mulher da sua vida, se você ainda tem muita vida pela frente? -
- Mas eu quero viver isso com você! Quero ficar o resto dos meus dias com você! -
- Pedro, eu não sei nem se vou estar viva amanhã, como você quer que eu saiba que o resto da minha vida vai ser com você? -
- Como você consegue ser tão fria, mulher? -
- Fria? -
- Você é incapaz de mostrar sentimentos! Pelo amor de Deus, Marcela, eu te amo! -
- Então prova! -
- Como? - Essa era uma boa pergunta. O que era o amor? Como provar que era amada, se Marcela não se sentia amada? Melhor, não sabia como era se sentir amada, nunca tinha sido amada antes, pelo menos achava isso.
Amor de mãe, claro, todo mundo tem, era uma das poucas coisas que acreditava, achava que isso já vinha incluido, toda mãe TINHA que amar seus filhos de uma forma ou de outra. Mas amor assim? De homem pra mulher? Ser a mulher da vida de Pedro? Como?
- Não sei. - Já leu sobre amor em muitos livros, já viu em filmes. Pedro deveria se matar, como Romeu? Mas se ele morrer, Marcela seria a mulher da morte de Pedro, não da vida.
- Eu não aguento mais, Marcela. -
- O que, Pedro? -
- Isso! -
- Isso o que? -
- A gente sempre briga pelos mesmos motivos! -
- O que você quer que eu faça? -
- Que me ame! -
- E como é isso? -
- Não sei. -
- O que você sugere que façamos, então? -
- Não sei. -
- Você fala de mim, mas também não sabe de nada! -
- Tudo o que sei, Marcela, é que eu te amo, e... -
- Pedro, por favor, chega! Pela última vez, nós no conhecemos a cinco meses, você não pode me amar em tão pouco tempo! -
- Pouco tempo? São cinco meses! -
- Pedro, cinco meses não é nada. -
- Tá bom, Marcela. - Rolou os olhos. - Mas por que é tão difícil de acreditar que eu te amo? -
- Porque você não ama, Pedro. -
- Amo! -
- Não ama! -
- Amo! -
- Não ama! Não existe essa coisa de amor, Pedro! - Pela primeira vez em uma briga, Marcela cansou de ser culpada por uma coisa que não era culpa sua.
- Claro que existe! -
- Me diz o que é, então. -
- Ah... -
- Se não dá para definir, não existe! -
- Mas tem coisas que a gente não explica... -
- Claro que não, tudo precisa ter uma explicação, onde já se viu? Como vamos saber das coisas se nem elas sabem delas mesmas? -
- Hã? -
- Pedro, eu cansei. - Foi em direção à mesa de centro, onde estava sua bolsa, ao lado do pote de doces, onde estava o molho de chaves que abria a porta.
- Você está terminando comigo? -
- Não. O que a gente tem é divertido, não queria que acabasse. - Botou a bolsa no ombro. - Mas eu não aguento mais essas briguinhas. -
- Então, o que nós vamos fazer? -
- Eu não sei, você decide e me liga, tá bom? - Abriu um largo sorriso, roubou um beijo estalado dos lábios daquele rapaz que já não sabia o que fazer da vida, e sumiu no corredor. Pedro ficou olhando para a sombra de Marcela desaparecer no corredor e soube que, apesar desse jeito doido de Marcela, preferia viver brigando com ela do que viver sem ela.
- Ainda caso com essa doida... -

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