Paris

terça-feira, 29 de dezembro de 2009 4 comentários
Como eu queria ser livre.
Mas sou preso por um amor despedaçado, perdido e nunca achado, por um amor que nunca vi mais cruel.
Dois anos se passaram e não tiro você de meus pensamentos, não há outra protagonista em meus sonhos, não existe outro tema para meus poemas.
'Preciso de espaço' você disse. Quer espaço maior que o infinito? Infinito era meu amor por você, como não vê?
Para quê espaço quando duas almas se amam?
Afinal, o que é o espaço? Que sentido tem pedir a outro alguem que 'lhe dê espaço'? Se afastar?
'Dois passos estão bons, ou quer que eu lhe deixe sozinha?' Que culpa tenho? Que entendimento pode ter um homem apaixonado quando o outro pede 'espaço'?
'Conheci outra pessoa, estou confusa.' Ó crueis palavras, foram estas minha sentença. Meu mundo empalideceu, o ar não chegava aos pulmões, o chão já não me dava apoio, o coração, ó, este já não batia mais, eras agora meu carrasco, quisera eu que parasse e terminasse com minha cruel existência.
Fria como a noite que hoje me cai, me abandonou nas amarguradas ruas de Paris. As ruas de outono tinham um ar triste, mais triste que meu coração. Sentindo fortes pingos de chuva sobre minha cabeça, entrei no café que costumávamos frequentar na esquina perto de nossa antiga casa. Pedi o mesmo que sempre pedíamos e me sentei onde sempre sentávamos. Olhando ao redor, vi que o lugar havia passado por reformas e não se encontrava como sempre fora: as mesas não eram mais quadradas e desajeitadas, agora eram redondas e com classe, o ambiente não era mais iluminado e divertido, estava mais escuro e íntimo, um suave som de violão vinha de um pequeno palco atrás de mim e à minha frente, no lugar do antigo quadro que nós adorávamos observar, estava um grande espelho. E então me dei conta: tudo havia mudado, tudo havia crescido, menos eu.
Continuava o mesmo homem de aparência patética e insignificante, poucas coisas foram as que mudaram: antes, possuía um olhar apaixonado, uma alma feliz, e hoje isso tudo são lembranças. As maçãs, antes volumosas e sempre sorridentes, hoje estão murchas e escuras, assim como as pálpebras, dando uma aparência ainda mais patética. Senti as lágrimas subindo mais uma vez à vista enquanto vinha a lembrança de meus tempos de moço, a lembrança de um amor vazio, onde amava e não se era amado, e me perguntei: 'como pude ser tão idiota? ela está vivendo sua vida e eu estou aqui, lamentando por um amor que nunca existiu.' Olhei para minha xícara de café forte e vi as ondas que se formaram, culpa de uma lágrima que me escapou, vi o vapor se estremecer junto ao movimento errôneo do líquido em minha xícara e, mais uma vez, olhei para o grande espelho que estava no lugar do nosso quadro preferido.
De repente, a imagem de uma mulher atrás de mim tomava toda minha atenção. Ela estava molhada da cabeça aos pés devido a forte chuva que agora caía lá fora, mas podia se ver que estava chorando. Sem me dar conta, minhas lágrimas já caíam sem cerimônia e ela se aproximou de minha mesa. Com um olhar de um misto de vergonha e lágrimas, perguntou:
- Posso me sentar? -



Baseado no poema de Vinícius de Moraes: 'A carta que não foi mandada'.

4 comentários:

 

©Copyright 2011 Escreve-se | TNB