- É. Mas às vezes, nossas rotas se cruzam com alguns marcianos ou astronautas perdidos, e eles nos fazem companhia. -
- Interessante. -
- Mas um dia, o astronauta precisa voltar para a Terra e nos deixa com nada além de lembranças. Lembranças que nos fazem rir, chorar, sentir saudades. -
- Pois saiba Dona Estrela, que nós astronautas também somos meio sozinhos. Quando estamos de volta e a saudade de nossa estrela é tão grande, que nós matamos essa saudade aqui no mar. -
- No mar? - Intrigou-se. - Ora, como isso é possível? Pelo reflexo de nossas luzes? -
- Não. O mar tem umas cópias de vocês. Meio mal feitas, admito, mas, quando a saudade é muita, serve para saciá-la. -
- Quer dizer então, que eu sou uma estrela do mar? -
- Ora, quem foi o marciano que lhe enganou? Você não é estrela do mar, você é estrela do céu! Nunca deveria se colocar em posição de estrela do mar. Meras imitações, não passam de estrelas falsas. -
- Não são falsas, são apenas elas. Falsos são seus sentimentos por ela, pois você quer que ela se torne uma estrela do céu, mas ela não pode mudar o que é: uma estrela do mar. -
- De fato, está certa. Mas estrelas do mar secam e se quebram ao Sol, estrelas do céu não, são perfeitas, não se quebram, não entortam, não perdem a beleza. -
- Mas estrelas do mar são nada mais que estrelas do céu gastas por astronautas como você. Todo astronauta é meio marciano, toda estrela do mar já foi uma estrela do céu. -
- Não sou marciano. -
- Não, mas pode ter sido. Por trás deste astronauta que veio me tirar da solidão, ficaram milhões de estrelas sozinhas, gastas e até algumas estrelas do mar usadas para me substituir. -
- Dona estrela, estaria disposto a me redimir de minha vida passada de marciano, se a senhorita me concedesse uma eternidade em sua companhia. -
- Uma eternidade é tempo demais... -
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